16 de fevereiro de 2011

Palavras, momento.

Oi Aline, não sei por que, mas ao ler esse pensamento lembrei-me do seu blog. Beijos, Regina

"A linguagem é um Pharmakon, palavra que possui três significados: remédio, veneno e cosmético. A palavra pode ser usada como remédio quando consolamos uma pessoa;  pode ser um veneno quando por ela difamamos alguém ou semeamos discórdia; pode,  ainda, ser um cosmético quando a utilizamos para elogiar ou na poesia, que pode mudar uma realidade, fazendo com que ela seja até mais bela do que realmente é."

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 Ao ler a frase bonita enviada por minha amiga Regina, companheira do SEMEADOR, uma janela mental se abriu. Voltei ao tempo do meu mestrado em Letras (área de Lingüística) na UFPE, tempo em que vibrava nos dias das aulas de psicolingüística e análise do discurso, das reflexões a cerca da língua/linguagem, do dito e não dito.

Quando escrevo em meu blog, por exemplo, mobilizo conhecimentos prévios (o de mundo, o léxico-sistêmico e o textual). Ao escrever, posso ter em perspectiva o meu leitor “ou não!” (como diria Caetano Veloso). Posso fazer da minha escrita um ato de organizar, na tela ou papel, os meus pensamentos. O interessante é saber que o que julgo ser “meu” está povoado de vozes. Vozes? Como assim?

A interação entre interlocutores é o princípio fundador da linguagem, e é na relação entre sujeitos, na produção e na interpretação dos textos (falados ou escritos), que se constroem o sentido do texto, a significação das palavras e os próprios sujeitos. Com efeito, pode-se dizer que a intersubjetividade é anterior à subjetividade. Esta é o resultado da polifonia das muitas vozes sociais que cada indivíduo recebe, mas que tem a condição de reelaborar, pois como ensina Brait, com base em Bakhtin/Voloshinov :.  “Tudo que é dito, tudo que é expresso por um falante, por um enunciador, não pertence só a ele. Em todo discurso são percebidas vozes, às vezes infinitamente distantes, anônimas, quase impessoais, quase imperceptíveis, assim como as vozes próximas que ecoam simultaneamente no momento da fala”.

Aquele (a) que me lê, constrói o sentido estabelecendo inferências a partir de suas circunstâncias históricas, políticas, ideológicas e sociais.  Desta maneira, longe de ser uma atividade passiva, a leitura é um processo dinâmico através do qual o leitor se envolve ativamente na (re)criação do sentido do que lê fazendo uso dos seus próprios sentidos. A palavra escrita, então, poderá, dependendo do leitor e do seu momento, ser recebida como remédio, veneno ou cosmético.

Nos trechos de um texto – Linguagem – extraídos do livro Fonte Viva, Emmanuel nos lembra que:

“Através da linguagem, o homem ajuda-se ou se desajuda.”

“(...)Tenhamos a precisa coragem de eliminar, por nós mesmos, os raios de nossos sentimentos e desejos descontrolados.
A palavra é canal do "eu".
Pela válvula da língua, nossas paixões explodem ou nossas virtudes se estendem.
Cada vez que arrojamos para fora de nós o vocabulário que nos é próprio, emitimos forças que destroem ou edificam, que solapam ou restauram, que ferem ou balsamizam.
Linguagem, a nosso entender, se constitui de três elementos essenciais: expressão, maneira e voz.
Se não aclaramos a frase, se não apuramos o modo e se não educamos a voz, de acordo com as situações, somos suscetíveis de perder as nossas melhores oportunidades de melhoria, entendimento e elevação.”

Fiquemos atentos... edificar, restaurar, balsamizar através das palavras.

Muita paz à todos!

Aline Caldas

5 comentários:

  1. A palavra escrita, então, poderá, dependendo do leitor e do seu momento, ser recebida como remédio, veneno ou cosmético complemento dizendo que assim é com a palavra falada.
    Busquemos a prudência com elas que nos são tão importantes.
    Abreijos sem silêncio só boas palavras .

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  2. Oi Aline,

    Linda sua reflexão. Coincidência ou não, srrs, tenho um daqueles "insights" que me inquieta vez por outra, mas nunca tive tempo de me aprofundar sobre tal...Continuando na pespectiva "Linguagem e espiritismo: Que tal refletirmos sobre essas "outras vozes" na perspectiva espiritual!> Pelo conhecimento e admiração que você tem sobre Bakthin, que comecei a estudar com voce, lembra!>; como voce está se aprofundando na doutrina espírita e como sei que voce escreve super bem, fica aqui uma solicitação: um post sobre essa possível semelhança.
    Quando voce escreve "FIQUEMOS ATENTOS... edificar, restaurar, balsamizar através das palavras. Daí eu reflito:
    Fiquemos atentos a nossos pensamentos que são "influenciados" por vozes encarnadas e desencarnadas...dentro da nossa história(s) de vida(s)...que construem nossas vozes atuais e futuras... "Orai e vigiai".

    Bjs de muita Luz.

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  3. Aninha,

    PENSE num tempo bom aquele, mas sigamos em frente no tempo que temos agora.
    Fiquei honrada com sua leitura e adorei sua provocAÇÃO. Sua solicitação é docemente intrigante:Bakthin, Linguagem, Espiritismo.
    Vou revisitar minhas leituras, minhas escritas e procurarei "tecer" algo a respeito.

    Beijos de muita luz, minha amiga!

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  4. Oi, Aline!

    Que texto profundo. Que eu possa somente falar na hora certa, e também na hora certa!

    Beijos

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  5. Oi Aline,
    Agora entendi porque me lembrei de você... Sincronismo!
    E por falar em palavra...que tenhamos a sabedoria de seguir o conselho de Dona Maria João de Deus para o Chico:"Meu filho...quando alguém lhe trouxer provocações com a palavra beba um pouco de água pura e conserve-a na boca. Não a lance fora, nem a engula. Enquanto perdurar a tentação de responder, guarde a água da paz, banhando a língua."

    Muita LUZ e PAZ

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